O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) completa 20 anos nesta sexta-feira. A departamento foi criado para ampliar o trabalho realizado pela antiga Delegacia de Tóxicos. O serviço deu tão certo que atualmente a instituição busca a expansão do depósito, onde são guardados os produtos apreendidos, que aumentam desde 1999. Porém, o Denarc tem também um caráter preventivo, com palestras em escolas localizadas em áreas vulneráveis e com a operação Anjos da Lei, realizada nas proximidades dos colégios. Criada em 2011, essa é a única ação contínua e, neste ano, resultou na prisão de 215 pessoas. Para o delegado da 1ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico (1ªDIN), Mário Souza, a venda de drogas nessas regiões tem apenas dois objetivos: recrutar novos integrantes ou viciar os jovens. “Temos que evitar que o adolescente tenha contato com a droga como usuário e impedir que ele seja aliciado pelo tráfico”, afirma Souza. Neste ano, o departamento bateu o recorde de apreensões de entorpecentes. A maior quantidade de droga recolhida foi de maconha, mais de 1,5 tonelada, seguida pela cocaína, 42 kg, e pelo crack, 25 kg. No entanto, a distribuição de drogas sintéticas como ecstasy e LSD também preocupam. Desde o início do ano, foram 8,3 mil comprimidos de ecstasy e 2,1 mil pontos de LSD. O RS não é um estado produtor de droga, mas o seu território é usado para o transporte e a distribuição de narcóticos. Desde a criação do departamento, o perfil das organizações criminosas mudou. Para o diretor do Denarc, delegado Emerson Wendt, o tráfico está mais distribuído e organizado. Em uma região, exemplifica, há quatro grupos distintos atuando. Em algumas ocasiões, há um revezamento entre as gangues por períodos determinados: uma semana para cada grupo vender o narcótico. “Antigamente, uma facção liderava uma área maior, mas ainda há algumas que se destacam”, acentua. A outra mudança é a relação das quadrilhas com outros crimes. Para o fortalecimento do grupo, explica Wendt, uma gangue compra armas, forçando os grupos rivais se armarem também. “Com a apreensão do patrimônio dos grupos, estes passam a assaltar para recapitalizar a quadrilha”, conta. Dessa forma, um dos focos do Denarc é retirar as armas de circulação, pois 70% dos homicídios estão relacionados com o tráfico. “O problema não é tanto o consumo de determinada droga, mas a disputa entre os grupos rivais”.
Metas mensais a serem atingidas
No ano em que são completadas duas décadas de atuação do Denarc, os policiais da instituição ultrapassaram a marca histórica de 2009, que era de 589 prisões. Até esta sexta-feira, 594 pessoas haviam sido presas e 15 adolescentes apreendidos. O mesmo ocorreu com as apreensões de drogas. Em 2015, 7 toneladas já foram incineradas e um outro lote de entorpecentes deve ser queimado em dezembro. Método de gestão é o que está trazendo resultados. Os servidores trabalham com metas mensais. “Isso nos estimula a manter a continuidade”, garante o delegado da 2ª DIN, Thiago Lacerda. Um dos objetivos é realizar operações que atinjam o topo da hierarquia do tráfico, além investigar crimes de lavagem de dinheiro para apreender o patrimônio e provocar o enfraquecimento das quadrilhas. Estima-se que mais de R$ 11,5 milhões tenham sido retirados das facções desde o início do ano, entre drogas, armamentos, veí- culos e dinheiro em espécie. “Acreditamos que essas operações desorganizem o tráfico”, diz o delegado Mário Souza, da 1ª DIN. A maioria das operações está focada nas áreas conflagradas como Restinga, Vila Concei- ção, Cruzeiro, Centro e Rubem Berta. Um exemplo foi a opera- ção Atrium, na Restinga, onde foram identificados três grupos atuando nas proximidades do Foro. Após a ação, não houve registro de homicídios por cerca de 40 dias na região. Segundo Emerson Wendt, diretor do Denarc, as estratégias são pensadas de acordo com a realidade do departamento, levando em conta o efetivo e a estrutura. Hoje, cem agentes atuam na área operacional.
Manter o estímulo é o desafio
Estimular as equipes é considerado pelo diretor do Denarc, delegado Emerson Wendt, o principal desafio a ser enfrentado. “Superar a frustração que os policiais sofrem ao ver o criminoso solto logo após prendê- lo e ter que começar tudo de novo é a maior dificuldade do nosso trabalho”, revela. Para ele, não cabe aos policiais a responsabilidade de buscar uma mudança na legislação. “Enquanto essas forem as leis apenas temos que fazer com que sejam respeitadas. Se um dia mudar, teremos que adaptar nosso trabalho”, afirma o delegado. Por outro lado, o policial explica que o departamento tem uma boa integração com o Judiciário e com o Ministério Público. “Mais operações estão sendo feitas conjuntamente”, ressalta. O delegado da 2ª DIN, Thiago Lacerda, acredita na necessidade de uma atualização na Lei de Execução Penal, de 1984, a partir da atual realidade do país. “Há uma crise nacional no sistema penitenciário. As posturas liberais adotadas pelo Judiciário devido a superlotação dos presídios faz com que muitos daqueles que vivem do crime fiquem soltos”, contesta o titular da 2ª DIN. Lacerda afirma que não há reconhecimento do trabalho policial. “Colocamos a vida em risco em defesa da sociedade, mas não temos a garantia do pagamento do nosso salário, nem do cumprimento do calendário de aumentos da categoria no próximo ano”, critica o delegado.
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