Delegado Emerson Wendt diz que combater a venda de drogas é fundamental para reduzir violência
O chefe da Polícia Civil do Estado, delegado Emerson Wendt, convocará os titulares das Delegacias Regionais da Serra para alinhar ações de inteligência contra a criminalidade. As reuniões estão previstas para começar este mês.
No cargo há três semanas, Wendt afirma que estratégias paralelas contra o tráfico de drogas, homicídios e crimes patrimoniais serão o foco do trabalho. Novas estratégias são necessárias, pois a Serra tem amargado o aumento da violência. Somente neste ano, foram 14 ataques a bancos em cidades do interior, além de duas investigadas contra caixas eletrônicos em supermercados.
Em Caxias, assaltos aumentaram 17% em 2015, média de 10 casos por dia. Roubos de veículos subiram 9%. Não é diferente em relação aos crimes contra a vida: 2015 teve 116 assassinatos, 17 casos a mais em comparação a 2014 Bento Gonçalves, segunda maior cidade da Serra, segue a tendência: sete assassinatos no começo deste ano, sendo que uma vítima morreu durante um assalto. No mesmo período de 2015, a cidade registrou apenas um caso. Em todo o Estado, os homicídios aumentaram 70% nos últimos 10 anos.
Combater o aumento dos índices criminais, porém, passa pelo desafio histórico de enfrentar a carência de recursos humanos nas delegacias. No último ano, 400 servidores se aposentaram. Na Serra, são 14 agente a menos – a Polícia Civil não divulga o número atual por questões estratégicas. Não houve reposição, mas o novo delegado é enfático:
— Fazer mais com menos. Este é o principal desafio da polícia — promete Wendt.
Confira a entrevista:
Pioneiro: Que estratégias serão adotadas para dar mais eficácia ao trabalho da Polícia Civil?
Emerson Wendt: Estamos em um processo de diagnóstico e composição de equipe. O diagnóstico é triangular: tráfico de drogas, homicídios e crime patrimonial, principalmente o roubo. No caso dos homicídios, precisamos reavaliar e rearticular o planejamento de combate. Isso é fundamental. Voltar a reunir os delegados e os responsáveis para avaliar os dados e estabelecer uma política. No caso do roubo, temos 19 cidades que representam mais de 90% dos casos de roubos no Estado (o que inclui Caxias do Sul e Bento Gonçalves). O planejamento vai avaliar um realinhamento dos recursos humanos e materiais. O ponto fundamental é a atuação dos órgãos de Polícia Civil de forma mais efetiva na lavagem de dinheiro. Tivemos resultado no Denarc em 2015 com isso: só com um inquérito (o da investigação do traficante Xandi, morto em janeiro do ano passado) recuperamos R$ 6 milhões com sequestros de bens, que devem ir a leilão e, conforme previsão legal, os recursos podem retornar para investimento policial.
O que mudar para combater esses três tipos de crimes?
Temos sido bem efetivos no caso do tráfico. Precisa haver um equilíbrio entre o combate ao tráfico e combate aos crimes patrimoniais. Ou seja, eu preciso incrementar o combate ao tráfico que vem sendo feito, com as atuações importantes das Defrecs e DPs que têm essa responsabilidade, com o combate ao crime patrimonial, principalmente o de roubo.
Tráfico e roubo são crimes que estão ligados?
Em alguns casos, quando combatemos o narcotráfico, os traficantes podem buscar uma capitalização por meio do furto e roubo. Por isso eu preciso de um equilíbrio. Reavaliar e realinhar as estratégias no combate aos homicídios também. Temos um passivo (inquéritos com mais de um ano) que precisamos analisar e estabelecer uma estratégia.
Caxias 116 assassinatos em 2015. Em 2014, foram 99. Foram seis latrocínios contra três em 2014. Em Bento Gonçalves, foram sete assassinatos em 2016. Como reduzir estes números?
A maioria dos homicídios são dívidas de tráfico ou acerto de contas. Só que a questão do tráfico não vai reduzir se não tivermos a prevenção. Precisamos dialogar com outros setores e órgãos governamentais para trabalhar isso. O tráfico existe porque existe usuário. Enquanto existir isso, o traficante vai manter a boca de fumo porque ele sabe que ali é um ponto que vale muito. A guerra do tráfico é uma guerra econômica. Só existe porque dá muito dinheiro, e quanto mais difícil para a polícia chegar no local, mais o tráfico vale e mais os traficantes o disputam.
Mas e dentro das delegacias, o que se pode fazer diferente?
Precisamos fazer o realinhamento, o que pressupõe um diagnóstico da situação atual, do que está sendo investido. É importante saber qual é o índice de redução que eu quero chegar e trabalhar com a gestão dos resultados. Recebi um projeto da área do narcotráfico que diz que vão aumentar as prisões em tal quantidade, mas que precisam do dobro de horas extras. Precisamos fazer isso em cada local. Se precisamos realocar recursos de outro ponto, precisamos ver isso em planejamento.
Na Serra, o principal problema das delegacias é a carência de recursos humanos. Como resolver isso?
Podemos trabalhar com várias possibilidades, conversar com as prefeituras, que também podem assumir uma responsabilidade por meio de um convênio. É um diálogo que pode demorar um pouco, mas as prefeituras podem ceder servidores para os serviços administrativos, para que a gente possa se concentrar na investigação. A questão da segurança pública não depende só de nós (Polícia Civil), mas também de uma efetiva atuação também da Brigada Militar, do sistema prisional, de uma perícia bem feita. Outro problema é que as delegacias especializadas têm de dividir sua atuação com ocorrências menores. Isso é uma coisa que a gente precisa analisar porque nem todas trabalham da mesma forma. Precisamos fazer com que elas trabalhem exclusivamente em alguns pontos para que possam render mais. Precisamos definir isso num ajuste interno em termos de administração.
Como ficariam as demandas hoje atendidas pelas especializadas, mas que não competem a elas?
A gente reteria algumas funções, porque algumas já são para outras delegacias. O que eu quero é que todas elas (especializadas) tenham orientação estadual.
Só este ano tivemos 14 casos de ataques a bancos na Serra. O que se fará sobre isso?
Vamos dar ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) mais um delegado na área da Delegacia de Roubos. Está praticamente definido isso.
PIONEIRO