“Local mais seguro é dentro da escola”, diz comandante da BM sobre retomada de aulas na Erico Verissimo

19156741Escola reabriu as portas nesta quarta-feira após dois dias com aulas suspensas em função da violência na comunidade em Porto Alegre

Por: Schirlei Alves

A Escola Erico Verissimo na Zona Leste de Porto Alegre, que suspendeu as aulas quatro vezes este ano em função de tiroteios entre facções, voltou a abrir as portas nesta quarta-feira. Viaturas da Brigada Miliar estavam posicionadas em frente à unidade escolar principalmente nos horários de entrada e saída dos alunos.

Os pais de um menino de 7 anos sentiram-se seguros ao buscá-lo na escola por volta do meio-dia. Eles ficaram aliviados em ver os portões da unidade abertos, pois estavam preocupados com o conteúdo perdido nos dias em que o turno foi reduzido ou não houve aula.

— Ele é louco para vir à aula, adora. O problema é que ficam atrasando (o conteúdo), mas ele é um bom aluno — ressaltou o pai.

Para o comandante do 20º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Egon Kvietinski, a medida de suspensão das aulas em dias de conflito não é a solução. Para ele, o local mais seguro daquela comunidade do Bairro Jardim Carvalho é justamente dentro da escola. Dispensar as crianças antes do horário pode se tornar um problema na visão do comandante.

— O local mais seguro é dentro da escola. Nós defendemos que a quebra dessa rotina expõe muito mais as crianças do que mantendo (elas na escola) — avaliou.

De acordo com Kvietinski, não há uma previsão de quanto tempo a operação de segurança em frente à escola será mantida. As decisões serão tomadas de acordo com as circunstâncias daquela e de outras localidades que estão sob a responsabilidade do 20º batalhão.

Clima de insegurança

A reportagem do Diário Gaúcho esteve nas redondezas da escola na tarde de terça-feira, um dos dias em que a Erico Verissimo fechou as portas por causa de tiroteio que ocorreu pela manhã no bairro. Havia pouca movimentação na rua. As saídas de casa se limitam a comprar o pão no mercado ou pegar a condução no ponto de ônibus.

– É como se todo mundo estivesse vivendo dentro de um presídio. Só que eles soltos e a gente preso. Só estou na rua porque a polícia está perto. Aqui está assim, tu sai na porta e já está na mira do tiro – relatou uma moradora de
60 anos, que pede para não ser identificada.

Os pais das crianças não sabem quando devem levar os filhos e muito menos quando as aulas serão recuperadas. Ainda que morem perto da escola, as crianças estão sendo sempre acompanhadas pelos pais.

Sozinhas em casa

Uma moradora de 54 anos, que cuida de três netas, está preocupada.

– A pequena, de cinco anos, não foi para a creche hoje (terça-feira) e as duas maiores, de 13 e 14 anos, estão sem aula. Eu trabalho e elas ficam sozinhas em casa – relata.

A avó contou que dias atrás outro tiroteio fez uma das meninas correr para casa.

– A outra ficou na escola com medo, tive que ir buscá-la. Eu digo para elas não saírem na rua porque é perigoso, fico preocupada. Deus me livre uma bala perdida. Até agora não fizeram reunião na escola, não sabemos como vai ficar. Eu ligo para lá e ninguém atende, como vou saber se tem aula ou não? – reclama.

Outra avó apenas limitou-se a dizer que nos dias em que não há aula os netos são distraídos com os programas de televisão.

– Só na televisão, vai estudando com o livrinho em casa mesmo. É ruim, né, quando a gente pensa que está bem vem o ¿bararara¿ – disse, imitando o som de tiro.

*Diário Gaúcho