Evento ocorreu na manhã deste sábado, no Centro Histórico Cultural Santa Casa, em POA
O Diário Gaúcho reuniu, na manhã deste sábado, no Centro Histórico Cultural Santa Casa, em Porto Alegre, autoridades, especialistas e familiares de vítimas para discutir o aumento da violência na Região Metropolitana. Aberto ao público e com entrada franca, a primeira edição do Debates Metropolitanos teve como objetivo central ajudar a reduzir as mortes, sobretudo de jovens, em uma região de cerca de 3 milhões de habitantes.
O evento, que teve o apoio do Centro Histórico Cultural Santa Casa e da Rádio Farroupilha, começou às 9h e foi transmitido ao vivo pela página oficial do Diário Gaúcho no Facebook (confira os vídeos abaixo). Após a abertura, feita pelo diretor-executivo de jornalismo do Grupo RBS, Marcelo Rech, e com uma breve fala do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, o repórter de Polícia do DG Eduardo Torres apresentou o monitoramento de assassinatos na Região Metropolitana que é realizado pelo jornal, no qual foram contabilizadas 6.408 mortes, entre 2011 e 2015 — cuja compilação de dados coletados resultou em um caderno especial, publicado nessa sexta-feira.
Em seguida, subiram ao palco para o primeiro painel do evento e deram seus relatos familiares de vítimas da violência, com mediação do editor-chefe do Diário Gaúcho, Carlos Etchichury. A primeira a falar foi Marlene Leiria, mãe do Gabriel Leiria, 17 anos, estudante morto durante assalto, em junho de 2015, no Bairro Água Viva, em Alvorada. Logo depois foi a vez de Márcia da Costa Barbosa, mãe de Tallyson Augusto da Costa Barbosa, 16 anos, assassinado por traficantes. Por fim, Ronei Faleiro, pai do Ronei Faleiro Junior, 17 anos, morto em uma briga de jovens na saída de uma festa em 2015, em Charqueadas.
No segundo painel, mediado pelo repórter especial e colunista do Diário Gaúcho, Renato Dornelles, responderam à questão “o que fazer para mudar esse cenário de violência” o subchefe de Polícia, delegado Leonel Fagundes Carivali; o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Alfeu Freitas; a promotora da Vara do Júri de Porto Alegre, Lúcia Helena Callegari; o Juiz da Vara de Execuções Criminais (VEC) Porto Alegre, Sidinei Brzuska; e o Pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUCRS, Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo.
O primeiro a responder foi o coronel Alfeu Freitas, que destacou a eficiência das equipes da Brigada Militar. Segundo ele, o trabalho que vem sendo feito pelas polícias é muito bom, mas esbarra, principalmente, na questão da impunidade.
— Precisamos diminuir a fila, para que a gente possa prender aquela pessoa que comete um crime e ela cumpra a pena. Senão estamos sempre fazendo um retrabalho e a fila não vai diminuir — afirmou.
Em seguida, foi a vez do delegado Leonel Fagundes Carivali responder à mesma questão. Para ele, todo e qualquer dinheiro aplicado pelo governo em segurança pública não deve ser visto como um gasto, mas sim como investimento. Além disso, ressaltou o esforço e o empenho da polícia na elucidação dos crimes. Contudo, observou:
— Tenho a certeza que os pais e mães dos jovens que morreram não querem ouvir o que a gente faz depois que eles morrem, os resultados posteriores às suas perdas. Na realidade, eles gostariam de ouvir soluções que impedissem que as tragédias que eles viveram acontecessem.
Logo depois, a promotora Lúcia Helena Callegari criticou, em especial, o sistema penitenciário brasileiro. No entendimento dela, o erro começa quando alguém que comete um delito de roubo armado é condenado a cinco anos de reclusão e acaba cumprindo menos de um ano em regime fechado.
— Temos que ter o fim do regime semiaberto, que é um regime falido, e pequenos estabelecimentos penitenciários, para evitar a atuação e o crescimento das facções — ponderou.
O próximo a dar sua opinião foi o juiz Sidinei Brzuska, que foi taxativo ao dizer que o próprio Estado foi quem organizou as facções dentro dos presídios. Para ele, o que há é uma desorganização do tráfico e, consequentemente, uma guerra por quem comanda cada ponto.
— Eles usam os jovens para fazer a proteção da boca (de fumo). Porque eles oferecem coisas simples, como uma roupa, um tênis, e depois cobram essa dívida — explicou.
O último a expor sua resposta foi o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, que defendeu a ideia de que cada setor ligado a segurança pública tem parte da responsabilidade pelo aumento da violência e, por isso, avalia que seja preciso que cada um faça uma autocrítica. Ele ainda aproveitou para levantar novas questões:
— A sociedade brasileira prende muito, mas será que essa é a solução? Prender mais nesse sistema superlotado e sem a possibilidade de ressocialização vai resolver? O semiaberto está falido. Mas e o fechado, está funcionando? É preciso inovar, pensar em soluções e debater.
Para finalizar, o público presente ao evento pôde fazer perguntas aos debatedores. Cada um dos cinco participantes da mesa respondeu a uma questão e deixou uma mensagem final aos presentes.
Assista ao evento, na íntegra: