Virou moda. Depois que o Governo decretou que precisaria parcelar em até dez vezes, com quase nada de entrada, as merrecas, digo, os salários de servidores públicos, como professores e policiais, ou não conseguiria honrar outros compromissos mais urgentes, como pagar em dia os belos salários do parlamento ou os belos vencimentos dos diversos assessores de cada integrante deste parlamento, ou auxílio-moradia para pobres categorias que não ganham nem quarenta mil por mês, é que tudo anda assim, com essa mania de se parcelar. Até o bom futebol do Grêmio. Que até deu uma entrada no Gauchão. Mas avisou, na Argentina, que não tem previsão de quando virá a próxima parcela. O povo precisa entender e ser solidário nestas horas. Aderir. Como no tempo do bigode do Sarney. Quem lembra? Eu era guri e tinha um bigodinho de papelão daqueles, vivia no armazém da esquina fiscalizando o preço da bala sete belo e da paçoquinha. Vamos todos sair com um bigodinho dizendo “eu parcelei”. Só tem que ser parcelado, também, pois fio do bigode não é para qualquer um. Mas precisamos insistir. Decidi que o meu primeiro parcelamento, por exemplo, seria na compreensão da verdade. Já que a verdade dói, vamos parcelar. Procurei, desesperado, pelas meias verdades que me cercam e com as quais nunca me dei bem. Estava disposto a lhes dar uma chance. Olhar seu lado bom e côsa e tal. Bah, tchê! Mas até as meias verdades já me surrupiaram? Penso nas vantagens do parcelamento. Os criminosos, se aderirem a esse pacto em consideração aos agentes de segurança pública, nos darão alguma goela. Sujeito vai te assaltar e diz que pode ir entregando todos os bens aos poucos. Ficaremos felizes porque seguiremos vivos e, enfim, nem será nada diferente dos impostos que pagamos. E, no mais, já é o que acontece. Hoje um te leva algo aqui, amanhã outro te leva ali, semana que vem vai mais coisa tua pro beleléu e assim por diante. Já somos assaltados em parcelas. Afinal, a única certeza que temos após um assalto é que seremos assaltados de novo. Só não tem data marcada. Alguém lançará a campanha em redes sociais, “partiu parcelar”. Vai ganhar seguidores. Tudo que é bizarro ganha milhões de adeptos, por aqui. Só não entendo por que a gente, que tem os direitos, a dignidade e o respeito parcelados, não pode também parcelar deveres. Como pagar impostos. Eu queria parcelar os meus e não consigo. O leão me pega. Eu tento apontar pra ele os caras que desviam das estatais, das obras públicas e de outras coisas por aí, mas não adianta. Leão brasileiro só come peixe pequeno. E engorda à vista! Eu, hein?
CORREIO DO POVO