‘Não imaginava’, diz vizinho de suspeito preso por terrorismo no RS

whatsapp-image-20160721_K6zjWBKVizinhança foi acordada por volta das 5h com movimentação em estrada.
Homem de 26 anos morava há cerca de 20 dias em Morro Redondo.

Patrícia Porciúncula Da RBS TV

A prisão de um homem de 26 anos, suspeito de terrorismo, nesta quinta-feira (21) assustou moradores de Morro Redondo, no Sul do Rio Grande do Sul. A ação da Polícia Federal ocorreu na localidade de Açoita Cavalo, na área rural do município de pouco mais de 6,2 mil habitantes. Um homem de 64 anos diz ter sido acordado por volta das 5h com a movimentação na estrada.

Moradores foram alertados por movimentação em estrada (Foto: Patrícia Porciúncula/RBS TV)
Moradores foram alertados por movimentação em estrada (Foto: Patrícia Porciúncula/RBS TV)

Ele não quis se identificar, mas conta que, durante a ação da Polícia Federal, vizinhos chegaram a ser interrogados, mas foram liberados. “Não imagina isso (envolvimento do homem com terrorismo).”

O suspeito, segundo o vizinho, morava há cerca de 20 dias na localidade com a esposa, o filho e seu pai. E diariamente ele ia para Pelotas, a cerca de 38 quilômetros da cidade. “Ele (o homem preso) estava estudando em Pelotas.O pai dele o levava todo o dia.” A reportagem da RBS TV chegou a ir na residência da família, mas não foi recebida.

Há duas semanas da Olimpíada
A operação contra o terrorismo da Polícia Federal foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (21) a duas semanas da Olimpíada do Rio de Janeiro. Dez pessoas foram presas em 10 estados, sendo que  uma das prisões cocorreu no Rio Grande do Sul.

Não foram dados mais detalhes sobre os motivos da prisão ou sobre o translado do suspeito para Brasília.

Batizada de “Hashtag”, a operação investiga a possível participação de brasileiros em uma organização criminosa de alcance internacional, como uma célula do Estado Islâmico no país. Conforme o Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, o grupo era organizado de forma amadora.

 De acordo com a Polícia Federal, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara da Justiça Federal do Paraná, expediu 12 mandados de prisão temporária por 30 dias, sendo que as detenções podem vir a ser prorrogadas por mais um mês.

Em entrevista coletiva concedida em Brasília no final da manhã desta quinta, o ministro da Justiça anunciou que a PF já havia cumprido 10 dos 12 mandados de prisão. Ele destacou que os 2 alvos que ainda não tinham sido presos estavam no “radar” dos policias e que, provavelmente, seriam presos em breve.

“Hoje, culminou na primeira operação onde uma suposta celula terrorista no Brasil foram presos 10 indivíduos. Isso é muito importante, que passaram a partir do nosso rastreamento de simples comentários sobre o Estado Islâmico”, relatou Alexandre de Moraes na entrevista concedida na sede do Ministério da Justiça.

“A partir do momento que passaram para atos preparatórios, a partir do momento que saíram simplesmente, daquilo que é quase uma apologia ao terrorismo, para atos preparatórios, foi feita prontamente a ação do governo federal, realizando, em 10 estados, 10 prisões desses supostos terroristas que se comunicavam via internet, via grupos, Whatsapp e Telegram, complementou o ministro.

O que é o Estado Islâmico?

O Estado Islâmico (EI) é um grupo radical sunita (um dos ramos do Islamismo) regido pelo autoproclamado califa (sucessor de Maomé) Abu Bakr al-Bagdadi. Atualmente, domina áreas do Iraque e da Síria, impondo uma visão radical e distorcida do Islamismo.

O grupo foi criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda, rede responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Mas os movimentos têm relações rompidas desde 2014.

Seu surgimento começou com a queda do regime de Saddam Hussein no Iraque, e o grupo voltou a crescer após a guerra civil na Síria, quando os membros do EI se juntaram aos rebeldes para lutar contra o governo de Bashar al-Assad.

Mas o objetivo do EI passou a ser a conquista cada vez maior de territórios, para impor sua interpretação do islã, de uma forma considerada muito brutal até mesmo para a Al-Qaeda.

O grupo tem atraído milhares de jovens pelo mundo com uma rede de propaganda maciça e vídeos de crueldades e decapitações. O grupo extremista prega o combate ao Ocidente e considera “infiéis” todos aqueles que discordam de sua visão de um islã puro.

Apesar de sunita, corrente majoritária do islã, o EI segue uma leitura radical das escrituras islâmicas. Com uma visão sectária antixiita, seu objetivo é impor a Sharia, a antiga lei islâmica, de forma rígida aos territórios dominados.

Abu Bakr Al-Baghdadi, autodenominado califa do Estado Islâmico, aparece em vídeo publicado pelos jihadistas (Foto: AFP/Al Furqan Media)
Abu Bakr Al-Baghdadi, autodenominado califa do Estado Islâmico, aparece em vídeo publicado pelos jihadistas (Foto: AFP/Al Furqan Media)

O grupo também exige que todos jurem lealdade a seu líder, com pagamento de impostos, cumprimento de suas proibições e interpretação radical da religião islâmica. Quem desobedece é alvo de penas, como torturas, a decapitação e a morte.

O grupo já prometeu “romper as fronteiras” do Líbano e da Jordânia com o objetivo de “libertar a Palestina”, e, para isso, tem pedido apoio de todo o mundo muçulmano. Nos últimos meses, no entanto, devido à resistência curda e aos ataques da coalizão internacional liderada pelos EUA, tem perdido território.

Sua intenção de fundar um Estado Islâmico também culminou em atentados como os de Paris, cidade que a facção considera a “capital do vício e da prostituição”.

Estrutura
O Estado Islâmico é um califado, ou seja, uma nação regida por um líder político e religioso que se baseia na sharia. O grupo dividiu o território que controla na Síria e no Iraque em regiões que são dirigidas por governadores e que possuem suas próprias estruturas militares e administrativas.

O califado tem um conselho composto por dirigentes do Estado Islâmico, que aconselham Bagdadi e aplicam suas ordens. Há também outros conselhos para temas específicos, como assuntos militares, de segurança, de finanças e de mídia.

A estrutura conta ainda com comandantes militares e um porta-voz, Mohamed al-Adnani, que costuma divulgar mensagens em áudio sobre o Estado Islâmico e suas ofensivas.

Autoridades americanas acreditam que o Estado Islâmico tenha cerca de 15 mil guerrilheiros. Segundo uma reportagem da revista “The Economist”, cada um recebe um salário de US$ 400 mensais, valor bem superior ao que grupos jihadistas iraquianos ou que o Exército sírio pagam a seus combatentes. Além de uma contribuição mensal, os militantes recebem dinheiro ao se casar, para ajudá-los a começar uma família.