Cabo Roberto Abramovicius foi morto a tiros na quarta-feira (21) enquanto fazia vigilância em um posto de combustíveis na zona norte. Atirador fugiu em uma moto roubada.
Por Jornal da EPTV 1ª Edição
Após a morte do policial militar Roberto Pereira Abramovicius em Ribeirão Preto (SP), o presidente regional da Associação de Cabos e Soldados da PM, Miguel Arcanjo da Silva, afirma que, por causa dos baixos salários, agentes da corporação têm recorrido a bicos de segurança particular como forma de complementar a renda.
Foi prestando um serviço de vigilância fora de seu expediente que o cabo de 38 anos, conhecido como Brama, foi morto na zona norte de Ribeirão na quarta-feira (21) por um homem que apareceu a pé e deu três tiros. O suspeito fugiu em uma moto roubada no local. A PM acredita que tenha sido um caso de vingança.
O mesmo aconteceu com um policial militar de 44 anos que, em janeiro de 2016, morreu baleado por dois homens em uma moto enquanto estava à paisana em uma padaria no Ipiranga.
“É lamentável, mas é um fato, uma realidade, o policial está exposto de todas as formas, ele está exposto quando vai para o seu trabalho, mesmo exercendo a função que é da Polícia Militar, ou aquela função que é atípica, que é o bico de segurança que somos praticamente obrigados a fazer. Então estamos no corredor e não temos por onde sair”, afirma.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que desde 2011 os PMs tiveram reajuste de 47,5%, mas que mantém diálogo aberto com a categoria. Também informou que os agentes têm condições de complementar seus salários por meio de iniciativas como a Atividade Delegada, programa em que, oficialmente, esses profissionais podem atuar na segurança nos horários de folga.
Críticas
Segundo Arcanjo da Silva, há quatro anos a categoria não recebe reajustes, apesar dos constantes pedidos ao governo estadual.
“Em razão dos baixos salários que recebemos, a associação vem lutando constantemente no sentido de que o governador se sensibilize com essa situação e faça um reajuste salarial pelo menos uma vez por ano, mas isso não acontece. Já vamos para o quarto ano consecutivo e não tivemos nenhum reajuste ainda.”
Apesar de confirmar que PMs recorrem aos bicos de segurança particular, ele confirma que a prestação informal desse tipo de serviço fora do expediente não é permitida – os policiais podem atuar apenas por intermédio de iniciativas como a Atividade Delegada, mediante regras como a limitação de horas trabalhadas e um convênio entre Estado e municípios.
“Nós temos nosso regulamento disciplinar, regulamento em que é proibido exercer essa função, que é uma função própria da Polícia Militar. Então o policial, quando de folga, não pode exercer essa atividade. Ele pode exercer outras atividades, mas menos essa que é relacionada a segurança”, diz Silva.
Execução de PM
O corpo do policial foi enterrado na quinta-feira (22) em uma cerimônia repleta de colegas de trabalho e autoridades no Cemitério da Saudade, em Ribeirão Preto. Casado e com dois filhos, ele foi morto por um homem que chegou a pé ao local e fez cerca de três disparos, sendo que o primeiro atingiu a cabeça do PM.
Na sequência, o atirador roubou uma moto e fugiu. O veículo foi recuperado pela PM na Rua Atílio Lazarini Neto, no Jardim José Sampaio. Uma câmera de segurança registrou o momento em que o suspeito abandonou a moto, mas ele não foi preso.
Brama chegou a ser levado para a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE), mas não resistiu.
Após sua morte, a zona norte da cidade viveu uma onda de ataques que resultaram em mais quatro mortes e outros cinco baleados. Dois ônibus chegaram a ser depredados e motivaram uma alteração temporária dos itinerários das linhas na região.
Na madrugada deste domingo (25), um homem de 31 anos foi baleado no bairro Jardim do Trevo, zona leste de Ribeirão Preto. Ele passou por cirurgia no HC-UE e segue internado.
A PM, que atribui a morte de Abramovicius a uma possível vingança por sua atuação policial, nega haver correlação entre as mortes registradas entre quarta-feira e domingo.
Brama chegou a ser citado como um dos envolvidos na onda de ataques em bairros da zona norte de Ribeirão, em outubro de 2012: cinco pessoas foram executadas em dois dias. Para o coronel da PM, entretanto, a morte do policial também não tem relação com esses crimes.
Os casos serão investigados pela Polícia Civil. “Os fatos serão apurados através de inquérito policial pela DIG de Ribeirão Preto”, informou, em nota, a Delegacia Seccional.
Segurança Pública
A Secretaria de Segurança Pública informa manter diálogo aberto com as entidades que representam os policiais e que estes receberam 47,5% de aumento desde 2011. “Foi montado um grupo de trabalho junto à secretaria de Planejamento para avaliar a evolução das receitas e, assim, verificar a possibilidade de reajustes salariais.”
A pasta também explica que a Atividade Delegada está em vigor desde 2009 em todas as regiões do Estado e permite aos PMs atuar em seus horários de folga nas ações de competência municipal, como combate ao comércio ilegal, auxílio nas atividades do Samu e reforço no patrulhamento em escolas, praças etc.
“A iniciativa permite renda extra aos policiais que aderem ao programa e também maior segurança para a população. Os PMs podem trabalhar por no máximo dez dias por mês e a carga horária não pode passar de oito horas por dia”, comunica.
Outra possibilidade de ganho extra, segundo a SSP, é a Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial (Dejem), com trabalhos voltados ao patrulhamento preventivo.