PIONEIRO: Crescem as trocas de tiros entre criminosos e a polícia em Caxias do Sul

Em maio, confrontos simultâneos ocorreram nos bairros Desvio Rizzo e Vila Amélia
Foto: Felipe Nyland / Agencia RBS

Confrontos resultaram em 21 mortes de bandidos desde janeiro de 2016

Leonardo Lopes

Pelo menos seis confrontos entre criminosos e policiais foram registrados em Caxias do Sul nos primeiros 21 dias de julho, uma média de dois tiroteios por semana. A amostra comprova uma realidade: o fogo cruzado está cada vez mais comum. Esta tendência é verificada desde 2015, quando 13 criminosos morreram ao reagir em ações policiais — 10 a mais do que em 2014. Desde janeiro de 2016, já são 21 casos com morte — sendo duas em reações de PMs que estavam em horário de folga. Morto na noite de sábado, Lenon Ferreira Costa, 20 anos, é a sexta vítima deste ano.

O comando da Brigada Militar (BM) no município admite a situação e demonstra preocupação. Entre as explicações possíveis para tantos embates está o avanço de facções, o aumento da criminalidade, a pressão popular por uma resposta contra a insegurança e uma geração que vê o crime como forma de ostentação.Oficialmente, não há uma estatística que contabilize confrontos entre polícia e criminosos. Os registros só são realizados obrigatoriamente quando há prisão ou feridos.

— Percebemos este aumento e temos preocupação neste sentido. Contudo, em um primeiro momento, é importante destacar que todos os confrontos foram transparentes no registro e não há questionamentos quanto a uma eventual ilegalidade ou abuso. A exceção é aquele caso de fevereiro do ano passado que resultou na prisão de três PMs, que seguem recolhidos. Nos demais, houve lisura, transparência e legalidade na ação — comenta o major Jorge Emerson Ribas, comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).

O oficial se refere à morte de Lucas Raffainer Cousandier, 19, durante uma perseguição policial na Perimetral Sul em 4 de fevereiro de 2016. Na ocasião, a própria corporação investigou e esclareceu o caso, apontando que os três soldados envolvidos atiraram contra jovens desarmados, implantaram armas para incriminá-los e dispararam contra a própria viatura para simular legítima defesa. Este caso não é contabilizado como confronto com a polícia, mas sim como homicídio qualificado, conforme denúncia do Ministério Público (MP).

Todos os confrontos com morte são investigados pela BM, que verifica o modo de ação dos brigadianos, e pela Delegacia de Homicídios, que esclarece a dinâmica dos fatos e remete ao MP. Nas 21 ocorrências dos últimos dois anos, não foram relatadas ilegalidades e os inquéritos apontaram legítima defesa.

— Tirando o evento famoso (morte de Cousandier), não há nenhum inquérito policial que aponte que não foi um confronto. Ou seja, em todos realmente houve uma ação da vítima falecida. Quanto ao procedimento, cabe ao comando (da BM) falar sobre a rotina de abordagem — resume o delegado Rodrigo Kegler Duarte.

MORTES EM CONFRONTO
Em 2017: 6*
Em 2016: 15
Em 2015: 13
Em 2014: 3

* até 24 de junho

Policiais assassinados
Nos últimos dois anos, nenhum policial foi assassinado em Caxias do Sul em situações de confronto. No entanto, um PM foi vítima de latrocínio. O sargento Edir Hendges Welter, 46, morreu durante um roubo de carro no bairro Pio X, em 23 de janeiro deste ano. Dois meses depois, em 22 de março, o tenente da reserva da BM Vilmar Dias Moreira, 50, também foi assassinado durante um roubo de veículo, desta vez no Bela Vista.