Assassinato de líder do tráfico na Capital deixa polícia em alerta

EXECUÇÃO de João Carlos da Silva Trindade pode resultar em violenta disputa por poder, diz delegado

ZERO HORA

Apontado pela Polícia Civil como um dos líderes do tráfico de drogas na zona leste de Porto Alegre, João Carlos da Silva Trindade, o Colete, 39 anos, foi assassinado ontem na Capital. Em liberdade provisória, ele foi morto na Rua Barão do Amazonas, Vila Maria da Conceição, bairro Partenon, às 12h30min. Colete havia chegado na casa da mãe 30 minutos antes de ser executado. O assassinato abre um “vácuo” no grupo criminoso por ele comandado, como define o diretor de investigações do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, delegado Gabriel Bicca. Polícia Civil e Brigada Militar decidiram intensificar o monitoramento de aliados e rivais da vítima. Uma disputa pelo espaço deixado ou mesmo a tomada de território por outros grupos são levadas em conta.

– Vamos avaliar as movimentações. A tendência é de que haja uma violenta disputa por poder. Alguém vai querer assumir o posto e, provavelmente, com uso de armas – destaca Bicca.

Responsável pela investigação, o delegado Rodrigo Reis apurou que havia pelo menos cinco pessoas na casa da mãe da vítima no momento dos disparos. Entre elas, o filho de Colete, de 11 anos, atingido de raspão em um dos braços. Dois homens ingressaram no local pelo portão da casa e, depois, na residência. Os bandidos estavam encapuzados e dispararam diversas vezes com pistolas .40 e 9mm.

Colete foi atingido com tiros no rosto, o que pode indicar a assinatura de uma facção rival. Desde 2016, a quadrilha que controla o tráfico de drogas na Vila Maria da Conceição está rachada. Colete, conforme as investigações, lideraria um desses lados. O outro lado receberia apoio de grupos de outras regiões de Porto Alegre.

O diretor de investigações do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc), delegado Mario Souza, avalia que os próximos dias vão determinar se a morte pôs fim a um ciclo ou deu início a outro.

Comandante do 19º Batalhão de Polícia Militar, o tenente-coronel Marcelo Pitta determinou reforço policial na região. A circulação de pelo menos três linhas de ônibus foi suspensa ontem à noite.

Uma guerra sem fim

A morte de João Carlos da Silva Trindade, o Colete, é mais um capítulo de uma guerra que se prolonga há anos, alternando personagens e protagonistas em disputa. Por duas décadas, predominou na Vila Maria da Conceição a figura do patrão único e soberano, encarnado pelo traficante Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição. O fim de seu império produziu disputas sangrentas que atormentam a comunidade local. O “império” de Paulão começou a ruir com sua prisão, em 2010. A queda foi sacramentada nas ruas e nos presídios, onde seu grupo dominava galerias. O controle então teria passado para Colete e outros dois que, segundo a polícia, seriam Silvio César Rodrigues Quadrado e Vladimir Cardoso Soares, o Xu. No ano passado, houve um novo racha. De um lado ficaram Xu e Colete. De outro, Quadrado, que estaria recebendo apoio de uma facção que atua na Região Metropolitana. Era o prenúncio de mais tormento para os moradores da Conceição e de mais mortes, confirmado pela execução de Colete.