Pioneiro: Quevedo, o policial militar que não descansa nem no dia de folga

Volnei dos Santos Quevedo atua no 12º Batalhão de Polícia Militar de Caxias do Sul
Foto: Marcelo Casagrande / Agencia RBS

 Servidor da BM escapou com vida de vários confrontos com bandidos

Uma pistola .380 plus prateada brilhou na cintura do homem de 52 anos que operava um trator numa propriedade na zona rural de Caxias do Sul. O soldado da Brigada Militar (BM) Volnei dos Santos Quevedo, 41 anos, sabia que estava diante de um modelo de arma mais potente do que a pistola .40 que carregava. O PM nem precisou olhar para o colega ao lado para entender a iminência do confronto. Era março de 2015.

O homem, um foragido condenado pelo assassinato de pai e filho, pulou do trator e correu para uma estrada. Quevedo não lembra de ter ouvido disparos, queria apenas cumprir o mandado de prisão contra o foragido. Tropeçou, levantou e continuou.

Num ponto da perseguição, com as balas zunindo, topou com o fugitivo numa curva e sentiu um impacto no braço. Quevedo caiu e arrastou-se para se proteger. Conseguiu revidar. Os disparos silenciaram e o foragido estava morto. Das 19 munições da pistola em poder do fugitivo, sobraram quatro não deflagradas.

Deitado no meio do mato à espera de socorro e ouvindo as sirenes ao longe, o policial sentia a tensão de um novo enfrentamento com parentes do foragido, o que felizmente não ocorreu. Com um tiro no braço, Quevedo estava aliviado por ter escapado de um confronto. Não seria a última. Cinco meses depois, o PM ganhou homenagem em Condor, sua cidade natal, pelo ato de bravura. Era o retorno em grande estilo ao município de 6 mil habitantes no noroeste do Estado, que havia deixado em 1999 para ser brigadiano.

– Dizem por aí que a gente está preparado, mas é diferente quando uma situação assim ocorre – conta Quevedo.

O PM é um dos servidores do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) responsáveis por monitorar criminosos com mandados de prisão em aberto. Antes de virar policial, Quevedo ganhava a vida fazendo cercas com o pai Alcidor de Oliveira Quevedo, 62.  No campo, aprendeu que manter o corpo na ativa por meio do trabalho e de exercícios são fundamentais.

Meses atrás, Quevedo estava correndo e viu um foragido passeando. Ele não pensou duas vezes e agarrou o homem. Os dois rolaram pelo chão, até que o fugitivo foi dominado e preso com a ajuda de um colega.

– Chorei muito porque ignorei que ele podia estar armado. Sou pai de dois filhos, isso pesa – conta o brigadiano.

Para Quevedo, um policial nunca está de folga. Numa ocasião, a caminho do restaurante para comemorar o dia dos pais com a mulher, que também é PM, e os filhos, ele viu um homem procurado pela polícia circulando na rua. Ele e a mulher pararam o carro e conseguiram prender o criminoso. Solidários, outros PMs assumiram a ocorrência para que a família pudesse aproveitar o resto do dia.

“O trabalho me permitiu conhecer pessoas boas”

A voz de Quevedo embarga quando lembra de amigos  de farda que morreram pelas mãos de criminosos, caso do sargento Edir Hendges Welter, baleado num assalto no ano passado em Caxias. No dia seguinte, Quevedo e uma colega enfrentaram um dos autores do assassinato. O criminoso morreu. Tempos depois, o 12º BPM criou um memorial e colocou uma foto do Welter.

– O pai dele veio aqui um dia para ver a imagem do filho. Foi algo tão triste – descreve ele, que repensou se não seria a hora de dar um tempo na busca de foragidos.

Por outro lado, a dedicação ao trabalho rendeu a Quevedo amizade com vítimas de crimes, o que ele faz questão de preservar.  Nas horas vagas, garante uma renda extra fabricando chope e vendendo a bebidas em eventos, atividade essencial para preencher as lacunas dos salários parcelados do Estado. Antes de ser empreendedor, foi técnico em enfermagem, função exercida no turno contrário ao da BM.

– A BM me abriu portas, me fez conhecer pessoas boas. As coisas sempre aconteceram para o bem para mim, acredito em Deus, acredito também que nada é de graça.