Diário Gaúcho: Barulho de tiros em treinamento da Brigada Militar incomoda moradores de Porto Alegre

NOTA ABAMF: O barulho de um tiro de treinamento causa menos danos que uma bala de bandido atingindo sua vitima. Sociedade hipócrita e de valores distorcidos.

Academia fica no Bairro Coronel Aparício Borges e quando foi criada não existiam casas no entorno, segundo a BM

A microempresária Lisiane da Luz, 37 anos, mora desde criança do Bairro Coronel Aparício Borges, em Porto Alegre. E ela sempre precisou lidar com um incômodo: o barulho dos tiros disparados no Centro de Treinamento da Brigada Militar, perto da sua casa.

O problema ficou mais latente cerca de dois anos atrás, quando ela se mudou para a Rua do Patrimônio. O endereço novo, em relação à sua antiga residência, é mais próximo ao local onde fica a linha de tiro em que os policiais treinam (veja no mapa). Lisiane começou a perceber que o som dos disparos atrapalha a rotina dos moradores da redondeza. Nem televisão, por vezes, se consegue assistir sem ser atrapalhado pelos estampidos.

Barulho constante

— Antes era aceitável, mas parece que, de um ano e meio para cá, ficou insuportável. O barulho começa pela manhã, por volta das 7h, e segue incessantemente até a noite, por vezes até as 22h ou mais — reclama a moradora.

E os tiros não ocorrem só em dias da semana. Aos sábados, os estampidos também podem ser ouvidos, mas em menor frequência. Em áudios enviados pela leitora ao DG, é possível escutar sequências de disparos por vários minutos.

Lisiane relata que explosivos também são testados no local, o que acaba assustando ainda mais os moradores, despreparados para o barulho.

— Até pensamos em fazer um abaixo-assinado, mas, no fim, não sabíamos nem para quem levar. Alguns vizinhos também já ligaram para o 190, mas sabemos que esse telefone não é para esse tipo de ocorrência — explica Lisiane.

Foto: Arquivo Pessoal / Leitor/DG

“Os PMs precisam treinar em algum lugar”, afirma a Brigada Militar

A região onde fica a Academia de Polícia Militar de Porto Alegre é um local de longa ligação com o setor de segurança. Além da Academia, que existe há cem anos, a Cadeia Pública de Porto Alegre — o antigo Presídio Central — também está instalado nas redondezas.

O tenente-coronel Rodrigo Buss, responsável pelo Departamento de Ensino da Brigada Militar, explica que, quando o local foi criado, não existiam habitações no entorno. E complementa afirmando que quem foi morar ali deveria saber sobre a existência da linha de tiro.

— A questão é que existe uma demanda da sociedade por policiais nas ruas, e nós precisamos treinar esses policiais em algum lugar. Esse (a linha de tiro) é o lugar — esclarece o tenente-coronel.

Atualmente, conforme Buss, cerca de mil alunos estão em treinamento no Estado, e 300 deles se encontram na Academia de Porto Alegre. Para o policial, o barulho faz parte do custo-benefício pelo qual a sociedade precisa passar para ter policiais nas ruas.

Sobre o aumento no som dos tiros nos últimos dois anos, a Brigada esclarece que armamentos mais modernos e potentes estão sendo utilizados, como pistolas e rifles, e isso pode explicar essa sensação dos moradores.

Parte do treino

— Nós não temos como colocar silenciadores em todas as armas. E nem podemos fazer isso, pois o estampido dos disparos precisa fazer parte do treinamento, para que esses alunos saibam como lidar com as situações reais. Tiroteios não são silenciosos — afirma o PM.

Buss deixa claro que a linha de tiro tem proteção para evitar que qualquer estilhaço de explosivos ou disparos seja lançado para fora do pátio da Academia. Mas o som dos disparos não pode ser controlado.

Ele ainda afirma que o Departamento de Ensino está aberto para que os moradores da região conheçam o local e saibam da necessidade do treinamento e sobre como ele funciona.