Chefe de Polícia assume sem previsão de nomear agentes

17941161NOVO CHEFE, VELHOS PROBLEMAS

EMERSON WENDT, 42 ANOS, assume Polícia Civil em meio a crise financeira do Estado, pensando em frear números da violência, mas sabendo que não haverá mais contratações nem promoções e temendo o parcelamento de salários

Em seu primeiro dia já tratando das dificuldades do combate à criminalidade, depois de anunciado como novo chefe da Polícia Civil, o delegado Emerson Wendt, 42 anos, teve reduzidas as horas de sono: foram só quatro na virada de quarta-feira para ontem. Os desafios são muitos, a começar pela montagem de sua equipe em departamentos e diretorias, e do direcionamento de efetivo (hoje, já escasso) para áreas mais delicadas e que necessitam de resposta urgente.

Wendt disse que ainda precisa fazer diagnósticos para então anunciar medidas, com base no que o próprio secretário Wantuir Jacini, titular da pasta da Segurança, lhe pediu diretamente. Promete levar para toda a polícia o dinamismo de trabalho que deflagrou no Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), que comandava até ser chamado para o novo desafio. Isso sem aumento de recursos, perspectiva de contratar novos servidores ou promover os que estão na ativa e em um cenário de sucateamento das finanças do Estado.

Ontem pela manhã, Wendt assumiu a chefia de 5,5 mil policiais civis no Estado, e substituiu o delegado Guilherme Wondracek, que comandava a corporação desde 2014. Wendt foi apresentado por Jacini, que elogiou o trabalho desenvolvido por ele à frente do Denarc e pediu que a metodologia de combate ao tráfico seja empregada em outros departamentos. O governo do Estado, porém, não prometeu a contratação de novos servidores e promoções devido à crise financeira.

Essa foi a principal reclamação de Wondracek, que afirmou a Zero Hora, na última quarta-feira, ser “desesperadora a falta de servidores”. Wendt deve organizar a equipe até hoje e pretende conversar com os colegas para buscar formas de motivar os policiais dentro da realidade de equipes reduzidas. A primeira medida, de acordo com ele, é a análise das horas extras e diárias disponíveis nos departamentos para serem distribuídas como forma de incentivo.

Wendt falou que atua com metas e inteligência e que combaterá principalmente o tráfico de drogas, roubo de carros e assassinatos – em uma década, o índice de homicídios dolosos (com intenção de matar) subiu 70% no Rio Grande do Sul. Além disso, 2015 registrou o maior número de roubo e furto de veículos da história gaúcha, com 38,5 mil ocorrências registradas.

– Missão dada é missão cumprida. Vamos procurar levar o dinamismo de toda a equipe do Denarc para a Polícia Civil como um todo. O pessoal sabe que sou bastante exigente, cobro resultado. A gente precisa trabalhar para que a sociedade se sinta mais segura – disse Wendt.

TEMOR NO ATRASO DO PAGAMENTO MENSAL

O secretário da Segurança descartou contratações imediatas de servidores e salientou que a convocação dos aprovados em concursos em 2014 depende de “equilíbrio fiscal”. Ainda explicou que não é possível empregar PMs temporários agora, pois a lei define que, antes, é necessário chamar os concursados. Jacini também alegou que o governo tenta primeiro pagar em dia os servidores na ativa antes de ampliar os cargos:

– O governador José Ivo Sartori e o secretário de Segurança, na ordem, são os maiores interessados em convocar os aprovados em concurso para a realização de cursos e, consequentemente, a alocação nas instituições policiais. Acontece que o Estado passa por dificuldades severas na questão orçamentária.

Uma das preocupações imediatas do novo chefe de Polícia é com o parcelamento de salários. Wendt comentou que buscará compensar essa possibilidade para manter as equipes motivadas:

– Certamente é um temor que acaba afetando. Vamos trabalhar de uma maneira estratégica que compense isso.

Quando retornar de férias, o ex-chefe da Polícia Civil, Guilherme Wondracek, deve atuar somente no Conselho Superior de Polícia. Todo ex-chefe da corporação tem cadeira garantida no conselho enquanto estiver na ativa. O órgão analisa candidatos que ingressam na corporação, julga processos contra policiais civis – podendo sugerir pena de absolvição, suspensão ou demissão –, entre outras atribuições.

* Colaborou Mauricio Tonetto
ADRIANA IRION*

ZERO HORA