Por Henrique Coelho, G1 Rio
dia após a notícia de que 1,4 mil policiais militares pediram licença psiquiátrica em 2016 no Rio de Janeiro, a Polícia Militar já definiu que pretende atender 2 mil policiais em 2017. Durante o lançamento do Fórum de Policiais Mortos, na terça-feira (3) o Comandante-Geral da PM, coronel Wolney Dias, ao citar a importância do trabalho do setor de psicologia da PM, brincou dizendo que não duvidava que pudesse vir a ser paciente. No intervalo, ele garantiu que não disse a frase por acaso.
“Não falei isso por acaso. Eu disse para mostrar que todos estão sujeitos a isso”, explicou o comandante-geral da PM. “À medida que o nosso policial é melhor assistido, ele tem uma condição de apoio institucional melhor, quem ganha com isso é a sociedade”, disse Dias.
As medidas fazem parte do Programa Permanente de Capacitação Continuada (PPCC) da PM para diminuição da vitimização de policiais: 3 mil morreram entre 1994 e 2016 de causas não naturais na Polícia Militar do Rio de Janeiro. O trabalho psicológico mais intenso está sendo feito nos batalhões com maior letalidade: 3º BPM (Méier), 7º BPM (São Gonçalo), 12º BPM (Niterói), 25º BPM (Cabo Frio), 41 º BPM (Irajá), 39º BPM (Belford Roxo), 4º BPM (São Cristóvão), 9ºBPM (Rocha Miranda) , 21ºBPM (São João de Meriti), 22º BPM (Benfica), 16º BPM (Olaria), 27º BPM (Santa Cruz) e 20º BPM (Nova Iguaçu).
O comandante diz ainda que o policial sente “vergonha” de procurar ajuda psicológica, um ranço de tempos antigos da cultura militar. Ele ressalta, porém, que a dificuldade para recorrer a psiquiatras, entretanto, não é exclusividade dos policiais.
“Esse é um estigma que não foi criado pela Polícia Militar, e sim pela sociedade. Se você tem um problema de coração, você procura um cardiologista. Se você tem um problema nos ossos, você procura um ortopedista. Se você tem problema na mente, você procura um psiquiatra”, explicou ele. “É preciso que as pessoas se sintam vistas e amparadas”, disse Wolney. “Os policiais tem que entender que a preocupação da corporação com estado mental de sua tropa é muito grande”.
“Maior medo do policial é errar”, diz psicólogo
De acordo com o chefe do Núcleo Central de Atendimento Psicológico da PM, tenente-coronel Fernando Derenusson, policiais tem muito mais medo de cometer um erro do que de efetivamente morrer em missão. “O maior medo é errar. Errando, o policial pode matar um inocente, acabar com a sua carreira. É importante lembrar que a saúde mental não se faz só com psicólogo, mas também com treinamento adequado e condições de trabalho”, explicou ele.
O corpo de ajuda psicológica da PM é composto por 98 psicólogos e 5 psiquiatras. A cada 3 anos, os 47 mil policiais recebem uma avaliação médica e psicológica para detectar problemas, como parte do Serviço de Atenção à sáude do Policial (SASP). A meta do serviço é atender 2 mil policiais em 2017.
“Enquanto psicólogos, a gente sempre teve as portas abertas. Só que percebemos que isso não é mais o suficiente. Por essa cultura de ter que ser forte, e a tudo vencer, o policial tem vergonha. Mas quando o serviço vai a ele, ele consegue dar vazão à sua fragilidade e a procurar ajuda. Esse serviço é responsável por ‘desarmar muitas bombas’ dentro do nosso efetivo”, explicou Derenusson. “Esse tipo de treinamento requalifica o policial em áreas conflagradas”, afirmou.
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