‘Vemos que a vítima se sente culpada pela violência’, diz capitã da BM

Jonas Spindler/Jonas Spindler/BM Comandante da 1ª Cia da BM, Policiamento Comunitário e Patrulha Maria da Penha, capitã Carine Reolon

Entrevistada é a comandante da 1ª Cia da BM, Policiamento Comunitário e Patrulha Maria da Penha, capitã Carine Reolon

JORNAL NH

Natural de Porto Alegre, ela veio para Novo Hamburgo em 2015 quando se tornou capitã da Brigada Militar. Enfrentando desafios em setores praticamente dominados por homens, Carine Reolon atuou antes como agente autônoma de investimento na Bolsa de Valores, advogada e, por muito pouco, não se tornou procuradora do Município. Aos 33 anos, formou-se ainda como instrutora de tiro em uma turma onde haviam apenas três mulheres.

Com destreza, ela coordena equipes na Brigada compostas por diversos homens. Com carinho, ela se orgulha do trabalho desenvolvido em prol da mulher vítima de violência doméstica em Novo Hamburgo. Nesta semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a capitã Carine lembra a todas que autoestima é fundamental, que as mulheres do Vale do Sinos podem sonhar cada vez mais alto e, principalmente, romper um ciclo de agressões físicas e psicológicas dentro de casa. Encontro busca mais dinheiro para tratamento do câncer

Quando uma mulher consegue se libertar do ciclo de violência doméstica?

Carine Reolon – Em razão da proximidade e laço afetivo que ela tem com o agressor, é comum vermos vítimas que demoraram muito tempo até tomar uma iniciativa de denunciar. Geralmente, isso acontece quando ela se vê acuada e comenta com algum amigo ou familiar.

E como é o acompanhamento desta vítima?

Carine – Acompanhamos ela desde o momento que vai à delegacia e pede socorro, pede uma medida protetiva, em um trabalho em conjunto com a Vara da Violência Doméstica e o Ministério Público. Também atendemos, além destas vítimas repassadas pelo Judiciário, algumas que ligam diretamente para a Brigada. Existe um prazo entre o momento que ela pede a medida e o deferimento, então fazemos este acompanhamento também.

E como evolui esta situação na cabeça da vítima?

Carine – No início, vemos que a vítima se sente culpada pela violência. Ela vai até a delegacia, mas não quer tomar uma atitude de representar criminalmente contra aquela pessoa ou de pedir uma medida protetiva. Tentamos trabalhar para que ela consiga perceber que aquela violência não foi gerada por culpa dela e que precisa se proteger, se empoderar diante daquela situação, porque a tendência é que vire uma bola de neve. Morre, aos 87 anos, ex-diretor da Novo Hamburgo Companhia de Seguros

A senhora recorda de algum caso marcante em Novo Hamburgo?

Carine – No mês de janeiro, tivemos um atendimento específico a uma vítima que relatava, toda vez que a Patrulha ia até sua casa, que se sentia perseguida, que o ex-companheiro armava alguma forma de segui-la para o trabalho, ficava cuidando com quem ela saía de casa. Era uma obsessão muito grande. A Patrulha Maria da Penha começou a acompanhá-la mais de perto e, numa das ocasiões em que ela nos acionou, os agentes conseguiram flagrar o homem à espera dela. O fato então terminou na prisão do agressor por ter descumprido a medida.

Dentro da Brigada Militar, o treinamento é diferenciado para a mulher?

Carine – Não. O uso da arma de fogo, abordagem, postura profissional durante uma ocorrência, todo o nosso treinamento é exatamente o mesmo de um homem. Inclusive a exigência de força, por exemplo, para segurar um armamento ou realizar determinado procedimento. Mas o que se percebe ainda é que a mulher é muito mais cobrada, se espera muito dela.

O que a mulher pode comemorar neste 8 de março?

Carine – Temos muito a comemorar com a chegada da primeira mulher ao posto de coronel na Brigada. Mas é muito intrínseco essa cultura de que a mulher é apenas a dona do lar. Ela tem que se mostrar muito mais capaz.