Metro Jornal: Concurso premia bravura e inovação de policiais

Prêmio leva policiais a gravarem histórias em vídeo | Divulgação / Heróis Reais

Por Rafael Neves – Metro Jornal Curitiba

O cabo Christiano Campanini, da PMRO (Polícia Militar de Rondônia), estava de folga indo pescar com amigos. Próximo ao rio havia uma obra, e nela os policiais viram um caminhão resvalar na rede de alta tensão e eletrocutar quatro trabalhadores em cima do veículo. Em minutos, o grupo socorreu as vítimas e as levou ao hospital. Ao final, todos sobreviveram.

O relato do cabo Campanini foi votado por 65.136 internautas e venceu a categoria “bravura” na região Norte do prêmio Heróis Reais, um concurso nacional lançado neste ano para premiar histórias inspiradoras de policiais.

O criador do prêmio é Marcos do Val, instrutor de imobilizações táticas que ganhou fama nas redes sociais como o ‘brasileiro na Swat’, força de segurança de elite dos Estados Unidos.

“Eu acompanho há 17 anos a relação de respeito que a população tem com o policial americano. Aqui no Brasil você acha que o policial é corrupto, é violento, é assassino. Nunca o vê de uma forma positiva, a gente traz isso desde a ditadura. Esse prêmio vem para ser um divisor de águas”, almeja do Val, cuja página no Facebook tem hoje 3,87 milhões de seguidores.

O prêmio funciona por votação online e é aberto a policiais militares, civis, federais e rodoviários federais, além de guardas municipais e agentes penitenciários.

Para participar, o policial deve enviar ao site do prêmio uma história pessoal que tenha acontecido a partir de 2015, nas categorias “bravura” ou “inovação”

Os relatos de bravura, como sugere o nome, envolvem atos de coragem em situações arriscadas. Além do salvamento em Rondônia, havia entre os finalistas das regiões Norte e Centro-Oeste – que já elegeram seus vencedores – até um policial que saltou em um caminhão desgovernado para freá-lo e impedi-lo de bater em duas casas.

Já a categoria inovação premia iniciativas fora do escopo operacional dos agentes. Há várias histórias de combate à criminalidade em áreas pobres das cidades – com projetos de cultura, esporte e educação –, além da criação de um sistema de recuperação de celulares roubados e de um software que facilita o trabalho das polícias civis, entre outras medidas.

Esta última categoria não foi pensada por Marcos do Val, e sim sugerida pela fabricante de armas Taurus, patrocinadora do evento.

Do Val diz ter sido atacado nas redes sociais porque estaria, com o prêmio, trabalhando pela reputação da Taurus, alvo frequente dos policiais por falhas nos equipamentos durante confrontos. A empresa negou essa intenção. “A imagem que o prêmio valoriza é a dos profissionais de segurança de todo o Brasil. Eles são a razão de ser do Heróis Reais”, diz Salésio Nuhs, vice-presidente da fabricante.

Vencedores vão à fábrica da Taurus ou a evento nos EUA

O prêmio é dividido nas competições regionais (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte), e os vencedores de ambas as categorias – bravura e inovação – em cada uma concorrerão ao concurso nacional no final do ano.

Todos os vencedores regionais ganharão, além de um troféu, uma viagem com tudo pago às serras gaúchas, com acompanhante, e visitarão a fábrica da Taurus em São Leopoldo (RS).

Já o vencedor nacional viajará, também com acompanhante, para os Estados Unidos. O passeio incluirá visitas às instalações da Swat e à Shot Show 2018, uma feira de armas em Las Vegas.

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 http://www.heroisreais.com.br/

Marcos do Val / Divulgação

“Bandido bom é bandido preso e condenado”

Celebridade no Facebook, o ‘brasileiro na Swat’ Marcos do Val busca histórias inspiradoras de policiais e diz que a banalização da violência nas redes sociais “não é o caminho” da classe para ser respeitada.

Como você tirou a ideia do prêmio do papel?

Primeiro procurei um deputado para ser feito um projeto, mas não vingou. Aí eu busquei a Taurus, que estava passando por reestruturação e essa equipe que entrou tem uma visão diferenciada. A bandeira da empresa é a inovação. Eles me convenceram que seria interessante incluir essa categoria no prêmio, e fui vendo muitas histórias de relação da polícia com a sociedade. Eu quero exemplos, quero que o garoto que está na comunidade deixe de idolatrar o traficante e passe a admirar o policial.

Você considera que o desgaste da imagem da polícia está diminuindo?

Considero. Na época em que os policiais foram para as redes sociais, era muita página deles se comunicando com eles mesmos. Só dava foto de bandido sendo morto, violentado, e eu comecei a falar que não é esse o caminho pra se ter o respeito da população. Sempre levantei a bandeira que o bandido bom é bandido preso e condenado. E aos poucos as pessoas começaram a ver que a maioria da polícia faz um trabalho honrado.

O prêmio tem alguma restrição com histórias que terminam em morte?

A gente escolhe o ato de bravura, de proteção da vida. Tem algumas histórias em que houve a necessidade de tirar a vida do agressor. Em outras ele só foi preso, em outras houve suicídio. O que a gente prioriza é a preservação da vida. A gente bota para votação e a preferência até aqui está sendo mais no sentido de preservação da vida.

Como tem sido a recepção ao patrocínio da Taurus? Há até pouco tempo, a polícia costumava reclamar do equipamento deles…

Quando eu comecei a falar desse projeto, os ‘haters’ vieram para cima de mim como se eu estivesse querendo ‘limpar a imagem’ da Taurus. E a Taurus teve três fases na historia dela: na primeira, ganhou nome e se tornou internacional. Na segunda, o dono morreu e a pessoa que assumiu deixou a qualidade cair. Ela só não faliu porque a CBC comprou a empresa em 2014. A segunda fase foi a que destruiu a imagem da Taurus. Mas agora é uma nova empresa e a parceria com eles melhorou o prêmio, a ideia da categoria inovação agregou muito.

Por que levar o vencedor nacional para os EUA?

A policia americana é referência no mundo inteiro, é uma referência em treinamento. É a referência que Hollywood é para o ator daqui. E é como a gente diz: “sapo do poço não conhece o oceano”. Por isso decidimos dar a eles essa oportunidade: quando o policial brasileiro vai lá, volta com um gás, uma vontade de continuar trabalhando. Aí pensamos: “não vamos dar o prêmio em dinheiro, não. Vamos dar em experiência de vida”.