ZH: Piloto de helicóptero roubado poderia ser usado como escudo em fuga de presídio

Cordas e fitas capazes de aguentar pesos pendurados no helicóptero foram encontradas pelos policiais civis junto à aeronave
Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS

Investigações mostram que possível objetivo dos bandidos que roubaram helicóptero era resgate de líder de facção criminal preso em Charqueadas

Por: Humberto Trezzi

A Polícia Civil dá como certo que o helicóptero roubado numa ousada ação na tarde de sábado em Canela seria usado para uma ação mais impressionante ainda, o resgate de um líder de uma facção preso em Charqueadas. Não se sabe ainda quem.

Por que Charqueadas? Porque os bandidos obrigaram o piloto do helicóptero, um Bell Jet Ranger com capacidade para quatro passageiros e um tripulante, a seguir para Triunfo, cidade que fica em frente a Charqueadas. Basta atravessar o Rio Jacuí para se ter acesso ao maior complexo penitenciário do Rio Grande do Sul, com quatro grandes presídios – e onde ficam enclausurados os cabeças do crime organizado no Estado.

Até para os padrões desesperados da “Vida Loka” (gíria usada pelos ladrões para definir seu estilo), usar um helicóptero para resgatar um bandido de dentro de um presídio é um ato com potencial suicida. Isso porque a guarda da prisão pode atirar – se os ocupantes da aeronave estiverem armados, se representarem qualquer ameaça ou se simplesmente o policial da guarnição acreditar que está ameaçado.

É nesse contexto que o papel do piloto seria vital, pondera um experiente policial civil ouvido por Zero Hora. O aviador seria usado como escudo. No caso, o piloto poderia mesmo ser refém (como alega ter sido o comandante do Bell roubado sábado) ou então a facção criminosa poderia usar outro piloto, contratado, para fazer o resgate. Fosse qual fosse a estratégia adotada – extorsão ou aluguel da mão de obra especializada – os bandidos têm razão ao imaginar que os PMs que guarnecem o presídio não atirariam. São orientados a não disparar, em caso de dúvida sobre presença de inocentes num veículo (aéreo ou terrestre).

Outra possibilidade é que os bandidos usassem uma tática diversionista. Poderiam explodir ou atacar a tiros uma guarita de um dos lados do presídio. Os guardas todos correriam para aquele lado – e o helicóptero poderia pairar sobre o outro lado da penitenciária, resgatando o líder criminoso.

Os policiais que investigam o caso consideram certo que o helicóptero não pousaria no presídio. Ele apenas pairaria sobre o pátio. Como sabem disso? Porque na aeronave, abandonada em Triunfo, foi encontrada uma fita de carga engatada, pronta para a decolagem de voo com carga externa. Isso significa que planejavam pendurar algo no voo (possivelmente, o chefe criminoso a ser resgatado). Foi dessa maneira que o líder do Comando Vermelho (CV) carioca José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, foi libertado em 1985 do presídio da Ilha Grande (RJ): pendurado numa escada de cordas.